quarta-feira, 11 de julho de 2012

O BOIADEIRO

Ê boi! Eram os gritos de Seu Antonio misturados com as primeiras luzes do amanhecer em mais um dia que nascia. Novamente o velho boiadeiro ia conduzindo sua boiada pelas estradas poeirentas, acompanhado do cantar dos pássaros e do cheiro da manhã e observando o quão diferentes eram seus animais uns dos outros apesar das aparências serem grandes. Tinha bois mais obedientes que lhe davam mais tranquilidade, tinham bois mais teimosos que lhe davam trabalho, tinham bois mais medrosos e bois mais afoitos.
E assim ele ia solitário conduzindo sua boiada. E entre os "bom dia" e os "tudo bom" que o boiadeiro proferia aos da beira do caminho ele passou por uma igrejinha que começou o seu ofício cedo, assim como ele, e de lá ouviu alguém que dizia as seguintes palavras:

"Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas. Refrigera-me a alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome" - Salmo 23. 2 e 3.

Seu Antonio passou da igrejinha, mas essas palavra não passaram nem sairam de sua cabeça e como numa espécie de iluminação ele compreendeu algo que não tinha compreendido em todos esses anos de caminhada e que mudou a sua forma de ver as coisas: ele entendeu que não era ele quem conduzia sua vida como conduzia sua boiada, mas antes, ele era conduzido como conduzidos eram seus animais por alguém maior e mais entendido do que ele.

Então, diante dessa compreensão, Seu Antonio tomou uma decisão: quando ele voltasse de tardezinha com seus bois, acompanhado do cantar dos pássaros para se aninharem e das sombras do anoitecer, ele iria até aquela igrejinha e iria se pôr de joelhos diante daquele que era o condutor de sua vida e de seus dias, se entregando ao seu "boiadeiro" e procurando se comportar como aqueles bois mais obedientes que lhe davam tranquilidade e alegria.

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